Entenda como funcionava o esquema de quadrilha que trocava dados de veículos no Paraná

Carros reais eram “transferidos” e proprietário do veículo verdadeiro só percebia crime quando acessava sistema


Lucas Sarzi | Banda B

Imagine a seguinte situação: você acessa o sistema do Detran e descobre, sem querer, que o seu carro não é mais seu. Pois foi o que aconteceu com as vítimas de uma quadrilha que agia em Curitiba e Região Metropolitana, alvo de uma operação da Polícia Civil nesta quarta-feira (1).

A fraude foi descoberta pelo Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) e o prejuízo gerado às vítimas é de mais de R$ 3,5 milhões. O esquema usado pelo grupo criminoso envolvia muita gente, inclusive despachantes credenciados, segundo a polícia.

Conforme as investigações, o grupo conseguia a chave do sistema digital de transferência de veículos de um despachante credenciado ao Detran. Com essa chave, os bandidos alteravam os dados dos veículos, incluindo no mercado carros roubados ou furtados e adulterados, com dados de veículos legais em circulação no país.

Em posse do veículo adulterado, os bandidos buscavam veículos iguais nos sistemas, adulteravam sinais identificadores e utilizavam documentos falsos para transferir o veículo para um “laranja”, inclusive fazendo a transferência de domicílio. Na sequência, o veículo era vendido para um terceiro.

O proprietário do veículo verdadeiro só percebia que o seu carro não estava mais em seu nome quando acessasse o sistema do Detran para pagar os impostos, ao consultar os documentos do veículo ou ao receber notificação informando mudança de titularidade.

Investigações
As investigações que, segundo a polícia, foram de alta complexidade, começaram há 9 meses, a pedido do próprio Detran-PR, que identificou a fraude. Durante as diligências foi apurado que os indivíduos, que não são servidores do órgão, montaram um mercado paralelo para “alugar” senhas de despachantes.

A investigação apontou que os despachantes alugavam as senhas e os bandidos inseriam dados falsos nos sistemas, colocando em circulação carros furtados ou roubados que eram “regularizados” em nome de laranjas.

De acordo com as investigações, eles utilizavam do sistema para ter acesso a diversas informações dos veículos e condutores, assim como ter a autonomia de gerenciar processos de transferências e vistorias dos veículos.

Nos levantamentos feitos, a PCPR apurou que alguns despachantes apontavam fazer mais de 900 vistorias por mês. Além disso, foi constatado que diversas vistorias haviam sido feitas ao mesmo tempo em lugares diferentes, ficando comprovada a distribuição das chaves para diversas pessoas.

Orientação às vítimas
Ainda não se sabe a dimensão de vítimas que a quadrilha possa ter prejudicado. Por conta disso, a Polícia Civil orienta que quem acessar o sistema do Detran e perceber alterações nos dados do veículo entre em contato com os investigadores.

A apuração é feita pela Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran), que fica na Rua Professora Antonia Reginato Vianna, 1177, no bairro Capão da Imbuia, em Curitiba. O telefone é o (41) 3261-6630.

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.