#Portugal: O primeiro evento em Portugal com a sua própria moeda digital

O Pixel Camp é o maior hackathon em Portugal e, na sua última edição, tornou-se o primeiro evento português a ter uma moeda digital e o seu próprio mercado paralelo. Os 1200 participantes puderam usar a Exposure para investir nos projectos que considerassem merecer constar entre os 10 vencedores do hackathon ou para comprar serviços de que necessitassem durante o desenvolvimento das suas ideias, como webdesign.

A Exposure é uma criptomoeda, isto é, uma moeda encriptada que é de todos mas ninguém consegue falsificar – pelo menos em teoria. Como todas as criptomoedas, é baseada em blockchain, um tipo de bases de dados descentralizadas e transparentes, que estão em constante actualização e que são gerida simultaneamente por milhares ou milhões de utilizadores (não estão concentradas nas mãos de apenas uma entidade e dos respectivos administradores). O blockchain é um conceito que, por agora, ganha forma de duas formas: Bitcoin e Ethereum. A primeira é uma moeda fechada, com regras estritas e que funciona de forma muito própria. A segunda é uma plataforma aberta, cuja tecnologia pode ser usada por qualquer pessoa para criar a sua moeda digital – uma espécie de “WordPress das criptomoedas”.

O Ethereum é, assim, a base da moeda do Pixels Camp. A Exposure assenta no ERC20, um protocolo específico desta tecnologia. Cada participante tem a sua carteira digital, que precisa de configurar antes de poder enchê-la de dinheiro, ganhando-o através de vários desafios espalhados pelo recinto. Essa carteira está protegida por uma chave secreta, uma espécie de código PIN (se quisermos utilizar o paralelo bancário), e tem uma chave pública, o IBAN que partilhamos com os outros para receber dinheiro (tem a forma de um código e pode ser simplificada num QR Code).

A partir daqui é o que se advinha: os participantes podem enviar e receber Exposures, comprando ou prestando serviços, investindo em projectos ou convencendo outros a investirem em si. Tornamos o Pixels Camp num grande mercado onde vocês vão ser empreendedores à procura de dinheiro, investidores, compradores… Estamos a simular um mercado real”, explicou o Celso Martinho, director executivo da Bright Pixel, que organiza o evento, na abertura do mesmo. “Vai ser divertido e haverá grande espaço para falhas.”

Os participantes podiam ganhar Exposures colecionando os QR Codes espalhados pelo Pavilhão Carlos Lopes ou distribuídos nos desafios dos patrocinadores – cada um valia 100 moedas. Existiu ainda um enigma, sobre o qual foi dada apenas uma pista (“está nos vossos sacos de boas vindas”, disse Celso), prometia recompensar a primeira pessoa que o resolvesse com 54 mil Exposures – o segredo estava, soube-se depois, nas t-shirts distribuídas a cada participante; existiam 24 designs diferentes com 24 códigos diferentes.

Lançar um mercado de criptomoeda num hackathon, cheio de geeks, é sempre um passo arriscado. Aos programadores foi dada liberdade total para fazer o que quisessem com o Exposure. “Tentem só não quebrá-la”, pediu Celso no início do evento.  Alguns dos projectos do hackathon tiveram por base o Exposure. Um grupo criou o PixelFund, um fundo comunitário para ajudar os investidores a apoiar os projectos sem muito trabalho. Outro desenvolveu uma app para o Pixels Camp, que, além de servir de agenda do próprio evento, permitiria aos participantes gerir a sua carteira digital, facilitando também as transferências ao exigir o username em vez da sua chave. Já o ExposureGate é uma ferramenta que promete ajudar a detectar esquemas maliciosos dentro do mercado. Outro grupo, que acabou por ter o seu projecto entre os 10 finalistas, desenvolveu uma máquina de videojogos retro que funciona com Exposure em vez moedas convencionais. No seu pitch final para captar mais apoio dos investidores, explicou que a tecnologia pode ter outras aplicações, como máquinas de venda automática.

No hackathon surgiram outras ideias com as criptomoedas como base, não Exposure especificamente. Houve quem sugerisse uma forma de pagamento dos transportes públicos, universal ao tipo de transporte e ao país, em Ethereum, ou propusesse um processo de registo e de utilização mais simples para as moedas digitais – o EasyCoin permitira compras pequenas de 20 euros por dia/máximo. Houve também um grupo a desenvolver um sistema de impressão de fotos com criptomoedas, chamado Bootchain – este projecto foi também um dos 10 vencedores.

O Exposure desempenhou um importante papel na selecção dos 10 projectos vencedores, uma vez que foram os projectos mais ricos a ganhar o hackathon. “Tipicamente o processo de voto não funciona e este ano decidimos fazer algo diferente e brincar com a tecnologia de blockchain”, anunciou. Quando uma equipa submetia o seu projecto para o concurso, através do portal do evento, automaticamente lhe era criada uma carteira digital e uma página de crowdfunding, permitindo-lhe captar investimento quer dos restantes participantes, quer dos 20 investidores, a quem foram dadas grandes quantidades de Exposure. “O dinheiro é para o projecto, fica na sua carteira do mesmo e não pode ser mexido pela equipa, tal como acontece numa campanha de crowdfunding real”, explicou Celso.

Os vários projectos tiveram todo o Pixels Camp para captar a atenção e o dinheiro dos investidores, mas o pitch final, de cerca de um minuto e meio, foi decisivo para muitas equipas. Aqui tiveram oportunidade de expor sucintamente a sua ideia aos investidores. Estes tiveram depois meia hora para decidir onde iriam meter o seu dinheiro, sendo que todas as outras pessoas que assistiram às apresentações podiam também contribuir com transferências das suas carteiras pessoais.

No final, todo o dinheiro que os projectos amealharam nas campanhas de crowdfunding foram redistribuídos pelos 10 vencedores final. No Pixels Camp não só foram premiados os 10 projectos mais ricos, como os 10 investidores que mais investiram. “Vamos precisar de mais algum tempo para anunciar os investidores premiados porque ainda temos alguma matemática complexa para fazer”, esclareceu.

Paralelamente, no mercado do Pixels Camp foram registados cerca de 30 serviços. Houve pessoas a vender trabalhos a sério, como explicações sobre Ethereum, webdesign ou verificação de bugs em HTML/CSS. Mas também existiram usos mais criativos. Alojamento a poucos metros do local do evento, visitas privadas ao Pavilhão Carlos Lopes e abraços foram outros dos serviços disponíveis no mercado.

“Foram criadas cerca de 700 carteiras”, revelou Celso Martinho no final do hackathon. “Considerando que usar blockchain ainda não é uma experiência excelente, isto são bons números.” Uma nota sobre a Exposure: no mundo tradicional das criptomoedas, qualquer pessoa pode criá-las nos seus computadores, através de um processo conhecido como mineração. No caso do Pixels Camp, só os computadores da organização do evento podiam minerar Exposures, evitando-se desequilíbrios na distribuição final das moedas. É que, caso a mineração fosse possível, grupos poderiam produzir Exposures para os seus projectos, ganhando assim vantagem relativamente aos restantes participantes.

Os participantes do Pixels Camp não podiam minerar moedas, mas podiam ir por outras alternativas para “viciar” o mercado. Ainda antes mesmo de a moeda ter sido oficialmente explicada a todos eles, já havia alguém a tentar roubar as chaves privadas que davam acesso às carteiras, através de e-mails de phishing. “Cuidado com os esquemas”, alertou  Celso, revelando ter recebido uma mensagem maliciosa proveniente um domínio parecido ao do Pixels Camp.

Na próxima edição, a Exposure deverá regressar ao Pixels Camp. Para mais detalhes sobre este moeda digital (incluindo informações mais técnicas), podes consultar esta página no GitHub.

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