Supera Rua: programa pioneiro em Pinhais oferece recomeços a pessoas em situação de rua

Pessoas em situação de rua atendidas pelo programa começaram as atividades nas Secretarias de Meio Ambiente e de Obras Públicas, em iniciativa pioneira da Prefeitura de Pinhais


Os participantes do programa Supera Rua iniciaram as atividades na última semana, nas Secretarias Municipais de Meio Ambiente (Semma) e Obras Públicas (Semop). Pioneira, a iniciativa da Prefeitura de Pinhais visa oferecer oportunidades de recolocação no mercado de trabalho e acompanhamento diferenciado para pessoas em situação de rua, atendidas pela Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas).

O programa teve o preenchimento de 15 vagas ofertadas e terá a duração de até um ano. Também está prevista uma transferência de renda proporcional à frequência e à assiduidade dos participantes, que terão acompanhamentos em atividades práticas, saúde e de assistência social.

Os participantes executam tarefas do cotidiano de trabalho da Semma e Semop, que acontecem diariamente no período da manhã. O Centro de Atenção Psicossocial (Caps) desenvolve os projetos terapêuticos em oficinas semanais e o Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas) realiza todo o acompanhamento social por meio das equipes técnicas do programa e do Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua.

“Eles têm uma oficina semanal no Creas, todas as sextas à tarde, onde trabalham temas relevantes ao processo de superação da situação de rua, reinserção na sociedade, deveres e direitos e articulações com a rede. A partir desse grupo, vamos rastreando as demais necessidades para o acompanhamento individualizado com o técnico responsável por cada usuário aqui na assistência social”, explica a psicóloga e técnica de referência do programa, Alexia de Geus.

Um novo plantio

Andrea Aparecida Martins, de 50 anos, entrou para o programa e começou as atividades no Horto Municipal. Para ela, esta é uma oportunidade de recomeçar. “Sou mãe de família, criei os meus filhos, fui casada por 23 anos e, por uma traição do meu ex-marido, não culpo ele em si, comecei a beber, e nisso fiquei na rua, escolhi usar drogas. Fiquei três anos morando no meio do mato, debaixo da ponte, três anos ‘cega’. Não atingi meu filhos diretamente, porque eles tinham a vida deles, mas ficavam tristes pelo meu uso, né. Então o Creas entrou na minha vida. Eles passam na rua, conversam, levam para tomar banho, dão alimento e também alimentam o teu espírito. Mas quando você está no uso [de drogas], você não quer conversar sobre isso”, relata.

“Eu demorei muito para entender, sabe… É que nem essa oportunidade agora, eu ‘to tão feliz, você não sabe o que significa pra mim estar com essa camiseta [uniforme], poder ser enxergada de outro jeito. Eu tenho profissão, sou operadora de máquina, tenho curso de portaria, fiz curso de monitor de casa de dependentes químicos, então eu tenho capacidade, eu achava que não, mas eu tenho. Hoje, neste momento, estou muito feliz, sou muito grata a todos, a esse projeto, agarrei mesmo e vamos ver no que vai dar e eu acho que vai dar num concurso público”, sorri Andrea, esperançada. “Quero voltar a trabalhar, quero ter minha casa de novo, é um novo começo. Estamos começando, plantando a sementinha. Enquanto você estiver vivo, não é tarde. Com esse projeto, eles estão confiando na gente, então temos que mostrar que também podem confiar na gente”, determina.

Uma outra paisagem

Em situação de rua desde 2012, também chegou a vez do Henrique Antonio Vitcoski recomeçar. Agora, pelo Supera Rua, as ações da Secretaria de Meio Ambiente fazem parte da sua rotina. “Tive problemas com dependência química e alcoolismo, e acabei perdendo meu serviço, e também para não incomodar meus familiares, acabei indo para as ruas, para albergue, e fiquei em situação de rua. Foi muito difícil criar forças para tentar sair daquela situação. Arrumei alguns bicos com jardinagem, com depósitos de recicláveis e acabei indo buscar ajuda da Prefeitura de Pinhais, no Creas, e graças a Deus fui bem recebido, eles me acolheram aqui, o município me abraçou”, conta.

“Muitas vezes somos vistos como indigente, vagabundo, as pessoas não sabem, mas tem muita gente que tem família, que não é usuária de droga, nem nada, mas tem parentes muito longe daqui e acabam em situação de rua, porque perdeu o emprego, não tem mais como pagar um aluguel… Então as pessoas generalizam, muitas vezes somos ‘invisíveis’ na rua, não que as pessoas não vejam a gente, eles veem mas fingem que não veem, ao ver um ‘morador de rua’, já seguram a bolsa, fecham o vidro do carro…”, lamenta.

A nova rotina do Henrique também já indica uma outra paisagem pela frente. “O Supera Rua foi um passo muito grande da Prefeitura de Pinhais. Então, se a pessoa se dedicar, temos a chance de fazer um concurso ou ser indicado para uma empresa. Isso motivou muito a gente que estava em situação de rua, pra gente conseguir retomar nossas vidas, voltar a se sentir como cidadão. Todos somos seres humanos, independente da sua classe social. Garanto que cada um de nós que entrou nesse projeto está fazendo o seu melhor, para mostrar que a gente também é capaz de superar os obstáculos e dar a volta por cima. É muito bom poder estar aqui, é gratificante poder retribuir com o meu trabalho o que fizeram por mim”, finaliza.

Sobre o programa

Inédito em Pinhais, o Supera Rua está embasado na Política Nacional para a População em Situação de Rua (PNPSR), que visa garantir acesso amplo e seguro aos serviços públicos. O programa foi apresentado, no dia 28 de fevereiro,  no auditório da Secretaria Municipal de Saúde para autoridades municipais e servidores técnicos da Semas e demais Secretarias envolvidas.

O acesso ao Programa Supera Rua pode ser espontâneo ou por encaminhamento de outros serviços sociais, sujeito a validação técnica. Consulte o Creas para mais informações. Atendimento de segunda a sexta, das 8h às 17h. Endereço: Rua 25 de Dezembro, 363, bairro Estância Pinhais. Telefone/WhatsApp: (41) 99228-2982.

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