Cartas a um amigo de Ministério: Quando descobrimos que havíamos desistido!

carta

Pr. Rodini Netto

Introdução:
O que você vai ler, a seguir, é a primeira de uma série de cartas que estou escrevendo para amigos que estão no Ministério Pastoral. Contam a minha experiência, que ainda sendo pouca, no Ministério, creio que será de grande valia para aqueles que desejam iniciar no Ministério como Pastores e pregar a Palavra de Deus nos confins da terra.

Não é um compêndio, mas, muito mais, um desabafo de forma clara (assim o espero), para que você possa entender algumas das coisas estão acontecendo com tantos ministros do Evangelho que, neste exato momento, estão abandonando tudo o que acreditavam para deixar-se encher pelo Vinho Novo mas que, primeiro, necessitam trocar os odres.

Espero, piamente, que seja de grande valia para você.

Segue a primeira carta:

Caro amigo,

Estive, ontem, iniciando um livro que tratava sobre a pregação do Evangelho. Como há muito tempo não fazia, comecei a ler e meditar no que estava lendo. Era um livro de um homem que, dentro de seu ministério, passou por muitas situações de honra e foi desonrado por outros por tantas vezes, mas que, mesmo assim, não se deixou abalar e continuou e continua pregando o Evangelho e, agora, muito mais preocupado em repassar aquilo que aprendeu para os novos pregadores. Este homem, outrora chamado de “Príncipe dos Pregadores”, não é um amigo pessoal meu, apesar de já termos estado juntos por várias vezes, inclusive, na mesma mesa e conversando por horas a fio, graças a amigos em comum que possuímos. Mas o título de “Príncipe dos Pregadores”, já não lhe cabe mais. Não porque ele não o seja, mas porque aprendeu, ao longo de sua vida, que a Honra e a Glória, sempre, são devidas àquele que o chamou a ser um Pregador. Mas ao dizer que este título não lhe cabe mais, o faço com a certeza absoluta de que este homem, que influenciou pregadores de multidões e pregadores de praças públicas, não gosta de ser assim chamado.

Tive a oportunidade de estar, algumas vezes, com o Pr. Geziel Nunes Gomes, um pastor muito conhecido e respeitado dentro das Assembleias de Deus. Um homem que passou a pregar ainda aos 5 anos de idade, em Belém do Pará e que, hoje, 50 anos depois do seu início como pregador, ainda prega efusivamente, arrebatando multidões, porque tem apenas um objetivo: pregar a Palavra de Deus.

Em seu Ministério, o Pr. Geziel Gomes já obteve fama, sucesso, reconhecimento, não só como pregador, mas como ensinador, como mestre da Palavra, como escritor de livros e materiais de estudo para muitas revistas de Escola Bíblica Dominical. Foi preletor em um sem número de igrejas pelo mundo afora, destaca-se como um dos principais ensinadores cristãos de nossos dias. Há enúmeras citações que poderíamos fazer acerca deste homem, levantado por Deus para pregar o Evangelho, mas preferi me ater nestas que escrevo acima, para mostrar quem foi e é. Todavia, a mais importante de todas as referências que pode ser dada a este homem, e falo pela experiência de ter convivido (muito pouco, é verdade, mas convivi) com ele pessoalmente, é o amor que possui pela pregação do Evangelho. E esse amor não é dividido com o sentimento da necessidade de ser conhecido, porque já o é. Muito menos para ser famoso, porque já se tornou um ícone da pregação da Palavra de Deus no meio Evangélico, há muitos anos. Menos ainda, para fazer fortunas, porque vive de maneira simples, mesmo pregando há mais de 50 anos. O Pastor Geziel Gomes, hoje, preocupa-se em que nós, seus colegas de Ministério, os mais novos, possamos fazer desse instrumento de Deus uma arma de destruição de cadeias, de libertação de vidas, de cura de pessoas, e, mais e muito mais importante, de salvação de almas.

Foi lendo um livro do Pastor Geziel Gomes que descobri, ainda ontem, que eu havia desistido. Sim, passei a perceber que, apesar de falar sobre ministério, pregar, ministrar, ir à Igreja, atender pessoas, procurar fazer tudo o que se espera que um pastor faça, descobri que havia desistido.

Para que você possa me entender, meu amigo, vou lhe trazer algumas situações que podem trazer um alento para o seu coração e um amor por sobre a minha vida e a de outros irmãos que, como eu, vivem ou viveram esta situação.

Não venho de uma família evangélica, o que fez com que eu nunca houvesse frequentado Escola Bíblica Dominical, quando criança. Não participava de cultos durante a semana e, muito menos, tinha uma conversa qualquer acerca de Bíblia dentro de minha casa. Fui criado em uma família de origem católica, mas que por motivos diversos, nunca foi praticante (falo apenas de meus pais), ou seja, não iam com frequência à igreja. Apesar disso, estudei em escola de freiras e de padres, e me lembro de uma irmã católica, naquela escola, ainda criança, que me deu uma Bíblia para que eu a pudesse ler. Mas isso acontecia uma vez por semana, e apenas na escola. Foi lá que comecei a ler o Evangelho de João. Foi lá que descobri que existia uma Bíblia. Também havia um padre católico que sempre admirei, que me havia inspirado que eu, aquele menino que estava ali, seria padre. Minha formação espiritual, digamos assim, foi toda católica. Fui batizado, crismado… Os tempos foram passando e, apesar do não envolvimento da minha família com a igreja católica, participei de grupos de jovens, ia à missa… comecei a conhecer um ambiente novo, voltado à Renovação Carismática Católica, ainda na cidade onde nasci… Alguns anos depois, comecei a pensar, definitivamente, em me tornar padre. Estava quase caminhando para a ida para o seminário, quando me deparei com algo diferente, que me impediu de ir ao Seminário e acabou com que eu fosse para uma comunidade onde, apesar do muito trabalho, havia um tempo para meditação e oração e o único livro que nos era permitido ler ou possuir era um Bíblia. Comecei a lê-la. Comecei a buscar, mais e mais, entender as coisas de Deus. Até que descobri que lá, aquele lugar, era um local de engano e saí sob a “condenação imediata do Lago de Fogo”, pois quem não mais estivesse ligado a aquele lugar, já estava totalmente condenado. Esse período foi onde mais me afundei no pecado, até que, uma noite (como tantas outras), vendo um programa evangélico na TV, me decidi por aceitar a Jesus. Poucos dias depois eu estava sendo batizado nas águas e no Espírito Santo.

Meu chamado para o Ministério se deu logo quando eu tomei a decisão de entregar a minha vida para Cristo. Naquele momento, já sabia que não poderia ficar apenas no banco. Comecei, então, a preparar-me no Instituto Bíblico daquela Igreja. Os primeiros momentos após aceitar a Cristo, foram tremendos. O primeiro retiro, as primeiras experiências… assumir a responsabilidade de trabalhar na organização de um retiro de adolescentes… ser diretamente chamado para aceitar o início ministerial no diaconato. É claro que todas estas coisas tiveram espaços de tempo mas naquela igreja a unção com óleo para indicar pessoas ao ministério, só acontecia quando eram ordenados os pastores. Comigo, algo diferente e marcante aconteceu. No dia em que foi ordenado ao diaconato, foi sobre mim imposta uma unção ministerial, com todas estas palavras, e a unção com óleo finalizou a ordenação. Dois anos depois, já casado, veio uma nova ordenação, agora ao Presbitério, e que também foi feita como uma unção ministerial e a imposição de mãos com óleo. Três anos mais tarde, vivendo em Portugal, foi então trazida sobre mim uma terceira unção, agora, ao Ministério Pastoral. A partir deste momento, passei a ser pastor auxiliar e, sempre que o pastor não pudesse, estava eu a substituí-lo. Até que mudamos de denominação.

Eu sabia que precisava aprender muito, ainda. Mas depois de ter trabalhado por vários meses com portugueses de etnia cigana, com um trabalho em uma casa, duas a três dias por semana, vendo Deus trabalhando em suas vidas de uma forma poderosa, sabia que não era mais o mesmo. Comecei a sentir e pregar com mais autoridade, e sabia que o Espírito Santo estava me dando a direção a seguir. Pregava sem medo, com intrepidez, com segurança, com a certeza de ter-me preparado para exercer este Chamado e este Ministério com a Excelência que dele era requerida. Nas igrejas por onde passava a pregar, as pessoas rendiam-se a Cristo e vidas passavam a aceitar a Jesus como Senhor de suas vidas e, tantas outras, retornavam aos caminhos do Senhor. Resultado: vi centenas de pessoas entregarem suas vidas a Cristo e mais de mil pessoas, nesse período, entraram em um processo de reconciliação com Jesus. Vi pessoas sendo curadas de enfermidades da alma e do corpo.

Algumas situações aconteceram em Portugal e, então, fui obrigado a retornar ao Brasil onde, pensava, as portas estariam abertas para que eu continuasse o Ministério da Pregação. Ledo engano.

Demorou algum tempo até que eu voltasse a pregar no Brasil. Passado algum tempo, novamente via o agir do Espírito Santo em minha vida, e nas pessoas que eram impactadas pela Palavra de Deus. Mas eu estava contaminado. Descobri, depois de anos, que eu estava contaminado. Queria um ministério famoso, um programa de TV, um programa de rádio. Queria que tudo fosse assim. Que ao Chegar ao Brasil, eu fosse já reconhecido como um pastor que veio da europa, que por lá tinha vivido cinco anos como missionário e que as portas seriam abertas para que eu estivesse a pregar a Palavra dentro das Igrejas. Descobri que eu queria fama e tudo o que ela pudesse me dar. Os títulos, ah!, os títulos, como me eram importantes ser “doutor” disso ou daquilo, bacharel nesta ou naquela outra área teológica. Meu “deus” passou a ser aquilo que eu queria, porque ali estava o meu coração. Então, quando descobri isso, parei. Mudei.

Comecei a confrontar a mim mesmo e a outros. O que estávamos pregando? Que tipo de “evangelho” estávamos pregando? A partir daí, vi outra mudança em minha vida ministerial. O Espírito Santo estava agindo poderosamente, e eu estava me quebrantando cada vez mais. Cheguei a ver pessoas sendo impactadas pelo vento do Espírito e caindo, apenas com o toque do vento, sendo que eu estava a um espaço de um metro de distância delas. Caiam, simplesmente, porque eram tocadas pelo Espírito Santo. Eu não lhes encostava um dedo. Mas lembrava sempre, que não era eu, e que a honra não era para mim. Esta Unção era tudo o que eu queria. Este Poder, era tudo o que eu queria. Mesmo que, para isso, eu precisasse romper com tudo e deixar que o vinho novo precisasse ser derramado em minha vida e que, portanto, este velho “tonel”, precisava ser trocado também.

O que era “velho” precisava ser tirado. O que tinha a ver com minha vida ministerial no passado, tinha que ser abandonado. Para que eu possa ter o Vinho Novo, precisava abandonar o “vinho velho”.

Foi assim que acabei descobrindo que já tinha desistido. Quando percebi que o objetivo principal do “meu” ministério havia sido corrompido pelos desejos humanos de fama e poder, passei a entender que tudo o que estava fazendo era diferente do que Jesus queria que eu fizesse. Eu achava que estava trilhando o caminho certo, que pregando a Palavra mais e mais, com as melhores técnicas, com a busca de um conhecimento teológico mais aprofundado, com a utilização de palavras mais robuscadas, e estando “cheio de mim”, convicto de que estava certo, com sermões previamente preparados que eu sabia que iriam tocar corações e vidas, eu estava cumprindo com o meu propósito na Terra. Mas fui percebendo que não… que o Reino de Deus consiste não só em palavras, mas em Poder… Poder que vem de Deus através do Espírito Santo. Poder para curar a alma ferida, curar a mente deturpada, sarar as enfermidades do corpo, libertar os cativos, trazer a verdade que liberta e transforma os corações ao ponto de reconhecerem que necessitam de Deus e não da idolatria a determinado pregador ou denominação, porque o Corpo de Cristo tem diferentes membros, de diferentes denominações, com diferentes formas de pensar, mas que sabem que Cristo é e sempre será o Cabeça.

Quando estava lendo aquele livro, comecei a perceber que havia abandonado meu Chamado Ministerial, abandonado o Ministério da Pregação, abandonado a Obra que Deus me confiou, quando deixei os sentimentos humanos falarem mais alto que a voz de Deus. Descobri que havia abandonado meu Chamado, quando vi que era mais importante estar pregando em qualquer lugar, onde meu nome estaria sendo divulgado como o preletor da noite, do que com as vidas que poderiam render-se aos pés de Cristo. Descobri que havia abandonado meu Chamado, quando pude entender que a busca pela fama, mesmo que discreta para mim, era a essência desde o princípio. Comecei a entender que havia abandonado meu Chamado, quando descobri que EU queria fazer, o que EU pensava fazer, o que EU queria que acontecesse, o que EU queria que fizessem por mim.

Por fim, meu amigo, que você possa entender algo que aprendi lendo o livro: “Como ser um pregador bem sucedido”, de autoria do Pastor Geziel Gomes: que para continuar, eu precisava parar. Sim. Eu precisei parar para reavaliar meus conceitos, meu Chamado, e reconhecer que falhei e preciso, agora, deixar de lado os odres velhos, para que o vinho novo venha a ser derramado em mim, porque Jesus está voltando em pouco tempo, em muito breve, e é necessário que, não só de palavras, mas verdadeiramente, Ele cresça e eu diminua!

Seu amigo e irmão em Cristo,

Rodini Netto, Servo.

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